Apologética

TESTEMUNHO DE UM CONVERTIDO

Extratos de uma entrevista de Annie Laurent com Simon-Pierre Kerboua

 

Reproduzimos, em primeiro lugar, a introdução escrita por Annie Laurent, para apresentar a sua entrevista com Simon-Pierre Kerboua, no seu livro Vivre avec Islam? (Viver com o Islã?), ed. Saint-Paul, 1996, porque situa perfeitamente o comovente itinerário deste convertido:

Sélim Kerboua nasceu na região de Constantine (Argélia- N.T.) há quarenta anos. Quando tinha quatro anos, a sua família emigrou para França e instalou­-se em Briançon (Haures-Alpes). O seu pai, muçulmano praticante, descendente de uma linhagem de xeques, ensinou-lhe o Corão.Quando era criança, os meus pais diziam-me para escarrar na Santíssima Virgem, quando passasse em frente à sua imagem”, lembra ele. Presentemente, tornado cristão, venera Maria, Mãe de Deus. Tudo mudou para Selim quando, no final da sua adolescência, apaixonado pelo absoluto, quis conhecer a religião dos filhos dos seus vizinhos e amigos, que eram católicos fervorosos. Um deles, posteriormente ordenado padre, falou-lhe do cristianismo a titulo informativo. Alguns meses mais tarde, o jovem muçulmano pedia o batismo, que recebeu aos vinte anos, com o seu novo nome, Simon-Pierre, após uma sólida preparação doutrinal. Estabelecido na Provença, onde trabalha numa empresa de vigamentos metálicos, vive intensamente a sua fé, que aprofunda e alimenta com o estudo amoroso e sério da História Sagrada. Encontramo-lo um dia de Natal, numa abadia beneditina. Tinha escolhido a liturgia gregoriana para festejar, “com a solenidade que convêm”, o nascimento de Jesus. Simon-Pierre Kerboua prontificou-se imediatamente a dar o seu concurso ao nosso trabalho sobre o islão.

Annie Laurent: O que o atraiu para o cristianismo?

Simon-Pierre Kerboua: A profundeza que não existe no islão. Muitas trivialidades e incoerências do Corão me chocavam. Pode-se interpretar tudo de mil maneiras, segundo o lugar e o momento. E depois, os muçulmanos legitimam más ações, a violência, por Deus: não se esforçam em procurar objetividade, em tender para o alto, porque o islão não os incita a isso. O espírito muçulmano compromete-se com erros manifestos; nega a verdade mais evidente. Em minha opinião, o islão peca contra o Espírito. Só os místicos muçulmanos, como Ibn Arabi, pelo qual me interesso, atingiram profundeza espiritual graças a Cristo, do Qual fizeram o pólo maior da religião. Também puderam chegar ao Amor vertical, transcendente. Estes místicos são, freqüentemente, cristãos que se ignoram. Por isso transtornam o islão. Alguns foram mesmo perseguidos. Ademais, o cristianismo enobrece o homem, impelindo-o à ultrapassagem permanente de si. Este desejo de elevação da alma, não deve ser vivido como uma tentativa heróica, mas como um ato de amor. Decerto, Cristo é exigente, mas se O seguimos, obtemos o repouso, a paz interior. De fato, tudo no cristianismo tem um gosto novo. Pessoalmente, o batismo libertou-me. (…)

Que pensa da atitude da Igreja Católica para com o islão?

Dou graças a Deus por ter recebido a instrução dá fé cristã na Tradição, porque sem isso sem dúvida não teria sido atraído pelo cristianismo, pelo menos com tanta força. Só a Tradição preservou a verdade, e quando se viveu no erro, creia­-me, aspira-se à verdade plena; a tibieza repugna-nos. Ora, hoje, em nome da caridade, a Igreja Católica cala a integralidade da verdade. Mas a caridade impõe que sempre se diga a verdade, porque o mal continua o mal, o inimigo permanece como inimigo, o erro continua o erro, mesmo que sejam embrulhados em vestimentas brilhantes. Constato, aliás, que as palavras perderam o seu real sentido. O uso muito espalhado das línguas vernáculas na liturgia não é estranho a estas transformações. As línguas mortas têm o mérito de conservar a significação imutável às palavras. Quanto ao latim, é uma garantia da verdade.

Para dizer a verdade, não compreendo a atitude da França. Filha primogênita da igreja, tendo tido na sua história relações privilegiadas com os árabes e os muçulmanos, acolhendo no seu solo numerosos muçulmanos, descura a transmissão da sua preciosa herança espiritual. (…) Muitos padres esqueceram a finalidade da sua missão: anunciar Jesus Cristo. Lembro-me de uma conversa com uma religiosa, que dirigia uma escola, também freqüentada por muçulmanos. Por pretensa caridade, suprimiu a oração cristã da vida escolar; logo, ela privava os seus alunos de um bem. Um dos meus sobrinhos, muçulmano, que atravessa uma plena depressão mística, emitiu esta terrível observação depois da sua entrevista com um padre:

“Os cristãos possuem a verdade, mas não querem partilhá-la.” Todos estes padres e religiosos pagarão um dia pela sua demissão.

Então, é preciso que a Igreja permaneça na Argélia?

Sim, no entanto, não como uma sociedade de beneficência, mas como testemunha visível de Cristo.

Essa visibilidade passa pelo uso do vestuário eclesiástico?

É indispensável, como sinal de consagração. O Evangelho exige-nos que não coloquemos a luz debaixo do alqueire. O hábito tem a vantagem de ser notado: chama o respeito ou o desprezo. É preciso ter a coragem de o usar, nem que seja pelo preço do martírio. É preciso escandalizar, no bom sentido da palavra, para provocar os outros para a verdade. Isto é válido em todo o lado. Os muçulmanos não se converterão com padres “tolerantes” ou permissivos. Muito religiosos, sedentos de Deus, não aderirão a uma fé adocicada, relativista.

Que pensa do diálogo islâmico-cristão?

Não há diálogo, nem haverá. É um engodo, porque os muçulmanos, quando formam um bloco, partem do princípio que possuem a verdade. O cristianismo não lhes interessa, e por isso não estão dispostos a discutir religião. Se o fizessem, teriam a impressão de se pôr em causa. Além disso, os seus argumentos são pueris, pobres, não convincentes. Contudo, mesmo que não o saibam, muitos muçulmanos esperam a verdade, e é neste âmbito das relações pessoais que os padres têm um papel a desempenhar. Se amam a verdade, devem partilhá-la a todo o custo; tal deve ser o prolongamento natural de todo o cristão. E é possível, quando os muçulmanos não estão submetidos à influência da comunidade como na França. Acredite-me, mais do que um muçulmano que aqui vive interroga-se sobre o cristianismo. Ensiná-los a amar o verdadeiro Deus, é nisso que deveria consistir o diálogo. Pobres de nós! A Igreja demitiu-se, por lassidão, por covardia.

Teólogos cristãos vêem o bem no pluralismo religioso.

Os que pensam assim, apostatam. Acreditam na heresia do Corão e fazem mentir Cristo, Que ordenou ir ensinar a todas as nações. A verdade não se mutila, não se divide. (…)

O islão é compatível com o laicismo?

Num país muçulmano, é impossível não ser governado pelo islão. Inconcebível. O islão, enquanto tal, é um sistema teocrático que não se pode reformar; é de tal modo suficiente que jamais recuará. Logo, não pode renunciar ao poder, senão taticamente. Tudo é discernido em termos de relação de forças.

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